sexta-feira, 11 de julho de 2008

Quase um Ode aos Ratos

Eu sou o rato que perambula pelas ruas das capitais e metrópoles que crescem incessantemente
Eu estou por onde você passa, mas você não me vê
Alias, finge não me ver
Não tem como não me ver assim, sujo, esfarrapado, fedendo a esgoto e mais gorduroso do que a coxinha que você come na padaria
Padaria, coxinha, frango, mal consigo me lembrar do gosto da comida fresca
Meu alimento é podre assim como suas atitudes
Meu alimento é mofado assim como seu sorriso
Meu alimento é o que sobra da travessa do seu cachorro
Meu alimento vem estragado assim como seu interior

Eu sou o rato que corre por entre os carros
Que espera por uma migalha na porta do restaurante onde você come
O rato ligeiro que tudo vê
Que conhece cada canto dessa cidade
O rato que encontra nos cachorros o fiel companheiro e nas pessoas o mais sincero desprezo
Somos aos montes espalhados por essa cidade
Em baixo de viadutos, nas calçadas, em casas abandonadas, por toda parte
E vamos nos multiplicando a cada dia, sendo os que já nascem ratos e os que se tornam ratos

Sou rato fugindo dos gatos
Gatos impiedosos e sanguinários
Gatos da corrupção, da miséria, da mentira, das falsas promessas
Monstros em pele de gatos siameses
Que constroem seu império capitalista as nossas custas e nem recebemos sequer um mísero obrigado
Gatos que apagam o passado e nos enchem de ilusões com histórias de seu futuro
“Um futuro promissor pra todos nós!” é o que eles dizem
Piada, balela, ladainha
Quando se visa apenas os próprios interesses e anula-se os interesses da classe mais baixa, não há como ter ordem e progresso

Sou um rato vivendo na era umbigóide
Vivendo cada um por si, correndo atrás da sua parte, dos seus interesses achando que está sozinho no mundo, que suas atitudes não afetam ao próximo
Sou um rato que dorme nas ruas gélidas, descalço, com meus trapos que mal cobrem minhas orelhas
Faço dos becos a minha privada, e das torneiras meu chuveiro
Faço do lixo o meu sustento e meu alimento
Dou piruetas de alegria no farol por um mísero centavo
Piruetas, mágicas, malabares
O que eu me tornei agora?
Um palhaço?
De rato de rua à palhaço?
Seria isso uma evolução?
Ou palhaço seria mais baixo ainda do que um rato?
Rato palhaço então?
Vivemos num picadeiro cheio de domadores que dominam os palhaços
Os palhaços que nos tornamos, que nos deixamos ser
Entre palhaço, rato, domador e gato, ainda prefiro continuar sendo rato
Porque posso não ter nada material para chamar de meu, mas o que mais me vale, que posso chamar de meu, é meu caráter, minha dignidade
Isso ninguém vai tirar de mim, isso ninguém vai comprar de mim
Sei que muitos se deixam corromper, mas não
Comigo não
Eles querem me punir, me podar com leis
Eu não sou o problema, sou apenas o resultado de suas ações, que de tão planejadas nunca dão em nada

Volto pro meu cano de esgoto, frio, escuro e úmido
Atentando pra pequena luz que vejo no fim do encanamento
Seria a luz da solução?
Da Revolução?
Ou apenas da próxima bomba nuclear?
Mas eu sou apenas um rato, afinal, quem liga para o que os ratos pensam?

Um comentário:

Caio Bruno disse...

Ahhh que post fodaço. Muito foda!
Você está se superando, Muxaaa.
Parabens auhahuhauauhahu